JOIAS PARA A DEMOCRACIA

Curadoria: Marta Costa Reis

1 Alexandra de Serpa Pimentel (PT)

“Celebração”

Colar 54cm

Cordão e fio de algodão, tecido, madeira e tinta acrílica

MULHER HOMENAGEADA: Mulheres anónimas

STATEMENT: Celebração. Celebrando a coragem de todas as mulheres que ousaram realizar os seus sonhos.

2 Ana Albuquerque (PT)

“Caixa para guardar a pulseira da Clara Menéres”

Caixa para pulseira 15x45x30cm,

Alumínio, cortiça, linho, lã, seda e ouro

MULHER HOMENAGEADA: Clara Menéres

STATEMENT: Escolhi homenagear Clara Menéres por admiração pelos seus valores, ética, coragem, honestidade, rigor, saber, energia e criatividade. A pulseira da Clara Menéres, foi um presente da sua mãe. Desde que era criança nunca a tirou, primeiro por opção, mas depois do corpo crescer por impossibilidade. O tamanho da mão pequenina transformou-se no perímetro do pulso adulto. Um modo carinhoso de a homenagear é conservar com cuidado e estatuto, a pulseira “escrava“ que a acompanhou sempre, até que numa altura onde a fragilidade da vida já se adensava precisou de a cortar. O gesto de ajustar a pulseira, que segurava com o polegar e o dedo médio da mão contrária era marcante, servia quase de pausa para pensar antes de recomeçar a falar.

3 Ana Calbucci (BR)

“Repetição”

Pregadeira 22x8x5cm

Filamento TPU flexível, transparente e tingido, pérola de água doce e prata

MULHER HOMENAGEADA: Marielle Franco

STATEMENT: A história que repete...a história. Num modo continuo, a repetir a violência numa virulência sem fim, durante mais de um século e meio como filhos da barbaridade, apenas com uma camada de um verniz civilizatório -  “…a história é muda ou somos surdos?” Marielle Franco poderia ser filha das mulheres que lutaram contra a ditadura militar, mas nem por isso a nossa sociedade modificou-se. Nem assim a sua vida foi salva. Não aprendemos nada? Execução sumária, milícia, impunidade, escritório do crime são as forças subterrâneas que regem soberanas. Mulher, preta, da favela, vendedora ambulante, educadora, socióloga, vereadora - Marielle deu voz a muitas outras com o seu trabalho e ativismo, com a sua existência. Como tudo o que se destaca chama à atenção, o que desponta na multidão é ceifado - a sua vida foi roubada. Quando foi morta foi dito que outras Marielles iriam surgir, que é um movimento impossível de ser contido. Que da multidão de mulheres invisíveis, um grande corpo iria tomar forma, como o nascimento de novas pérolas neste imenso oceano turvo. Será?

4 Ana Campos (PT)

“Amen”

Objecto de mão 8x8x2 cm

Prata e madeira

MULHER HOMENAGEADA: Madalena Cabral

STATEMENT: Madalena Cabral tornou-se para mim um exemplo no campo da arte, da cultura e da democracia portuguesa e internacional. Era também uma pessoa de família, pelo que desde criança se tornou um exemplo a seguir. Conjuntamente com Harry Holtzman, dediquei--lhe a minha tese de doutoramento em filosofia, sobre joalharia contemporânea. Nesta peça procuro revitalizar memórias da Madalena. O original, uma concha de madeira finlandesa, foi-me oferecido por ela quando eu era criança.

5 Ana Cardim (PT)

“NATAL FELIZ - É Quando UMA MULHER Quer!”

Colar - Dispositivo de Sopro 34x1.4x0.5cm

Prata, látex natural, fita de seda, caixa de batuta

MULHER HOMENAGEADA: Zita Seabra

STATEMENT: Militante Pioneira responsável pela apresentação e defesa em Assembleia da extrema necessidade de legislação parlamentar relativamente aos temas da liberdade de escolha da mulher relativamente à maternidade e da realidade desumana que envolvia o aborto clandestino àquela época. Este trabalho incide sobre os discursos de Zita Seabra no âmbito dos debates parlamentares ocorridos a 6 de Fevereiro de 1982 e 25 de Janeiro de 1984.

6 Ana Margarida Carvalho (PT)

“Por Terra e Mar”

Castiçais: Objeto 1, 11x11x6cm / Objeto 2, 8.5x8.7x5.8cm

Cobre, esmalte e velas

MULHER HOMENAGEADA: Sophia de Mello Breyner Andresen

STATEMENT: Sophia de Mello Breyner Andresen fez sempre parte do meu imaginário, fosse pelos contos que escreveu para crianças, por outros textos seus que cruzaram a minha vida, mas também pelas suas intervenções na sociedade civil. Ao procurar conhecer melhor a sua vida e obra, descobri uma pessoa consciente do Mundo em que vivia. A verdade e a justiça eram seus valores fundamentais, ajudou a construir um país melhor, mas acima de tudo foi uma luz que guiou gerações.  Uma centelha brilhante, em vigília, que ainda hoje ilumina.

7 Ana Pina (PT)

“luta luto”

Colar 75x15x1cm (largura variável)

Filamento PLA

MULHER HOMENAGEADA: Ana Hatherly

STATEMENT: O PAVÃO NEGRO

I

O pavão negro da escrita                 abre um leque de opções          exibe o luxo
do seu traje-cárcere

Babel silente
no vazio da página prende o tumulto da voz fixa o assalto da mão

Última instância rebelde é jogo luta luto grito calado

Ana Hatherly, “O Pavão Negro”, Assírio & Alvim, p.19.

“O Pavão Negro”, poema escrito para uma exposição da escritora/pintora Ana Hatherly, apresentada no Porto em 1999, serve de mote para “luta luto”, peça para “ver-ler” que joga com as palavras e os seus significados, numa alusão ao “grito calado” que encontrou voz na madrugada de 25 de Abril de 1974.  50 anos. 50 vezes escrevemos, lemos, repetimos “luta luto”, até as palavras se libertarem do seu peso, “agora dissolvid(o) na sedução do objecto estético”. Palavra, mancha, “cascata suspensa”, em que a tinta negra que escreve, ganha a tridimensionalidade e o movimento a que o desenho apenas aludia.  Construído como um colar, olhamos aqui para um objecto conceptual, pela sua dimensão e fragilidade - embora resida também na impermanência a sua força. Para a gargantilha é usado simplesmente o filamento de PLA antes de ser colocado na caneta de impressão 3D, pelo formato ergonómico e o desejo de simplificar a escolha de técnicas e materiais - como se a peça se tratasse de um desenho realizado a traço contínuo, pronto a ganhar vida. Colocada no corpo como numa folha de papel: “Só então desdobra / o radioso encanto / do seu frágil mistério”.  (As citações ao longo do texto são de Ana Hatherly, retiradas do prefácio e poema em três partes “O Pavão Negro”, incluído no livro com o mesmo nome.)

8 Anton Kuzmin (RUS)

“Conscience choker” [Gargantilha de consciência]

Colar 13.4x21.9cm

Prata 925 e esmalte

MULHER HOMENAGEADA: Yelena Osipova

STATEMENT: A peça “Сonscience choker" foi criada a partir de um cartaz anti-guerra da artista e ativista russa de São Petersburgo Elena Osipova. Conheci-a uma vez quando vivia em São Petersburgo. As pessoas chamavam-na de "A Consciência de São Petersburgo". Em 2 de março de 2022, Osipova estava entre as mulheres detidas por protestar contra a invasão russa na Ucrânia. As imagens da sua prisão foram amplamente compartilhadas nas redes sociais. Aos 78 anos de idade, continua a expressar ativamente a sua posição, desenha cartazes e participa em ações individuais há mais de 20 anos. Mas a consciência de muitos na Rússia hoje em dia está "sufocada" por novas leis; para aqueles que têm algo a perder, é muito difícil relaxar o pescoço e respirar livremente. Esta gargantilha representa o facto de que, se a "vestir" e expressar a sua opinião ao público, será muito "desconfortável".

9 António do Rosário (PT)

“Titina Silá”

Pendente 8.5x6.5x4 cm

Prata, Aço e vidro acrílico

MULHER HOMENAGEADA: Ernestina Silá (Titina Silá)

STATEMENT: Cada vez mais se evoca a expressão “o 25 de Abril nasceu em África” e seria pertinente acrescentar que o parto foi realizado também por mulheres. Esta medalha pretende homenagear/honrar Titina Silá que, alem de comandar os seus camaradas na luta armada, também era mãe não deixando de dar afeto aos seus filhos/a. A jóia é composta por um corpo metálico em aço, que remete para as várias “prisões” na vida, simboliza uma pedra do rio Farim /Cacheu onde Titina Silá e mais nove dos seus camaradas perderam a vida ao serem surpreendidos pela marinha portuguesa, quando se dirigiam para o funeral de Amílcar Cabral na Guiné Conacri. A imagem reproduzida demonstra o seu lado maternal, com uma criança ao colo cuja indumentária é o seu camuflado.

10 Áurea Praga (PT)

“Os olhos que vêem as coisas são”

Colar 20x76x2cm

Páginas do livro “Aborto, O crime está na Lei”, prata, fio de poliéster

MULHER HOMENAGEADA: Maria Antónia Fiadeiro

STATEMENT: A palavra escrita sempre foi a principal forma de expressão de Maria Antónia Fiadeiro. Quando a realidade das mulheres portuguesas era vivida em silêncio, a jornalista, escritora, feminista Fiadeiro utiliza a sua voz com bravura e franqueza. O seu livro "Aborto, O crime está na Lei" relata as circunstâncias de abortos clandestinos, traumas clandestinos e a normalidade escondida do dia seguinte. Escondo eu também as palavras deste livro, revelando-as de outra forma e através de outro meio de expressão. Na minha peça, cada um dos elementos de papel contendo o discurso impresso de Fiadeiro, representa uma morte, um lugar de luto. A totalidade de elementos que compõem a peça corresponde à média diária de abortos clandestinos realizados em Portugal nos anos 70.

11 Barbara Macedo (PT)

“Liberdade Sempre?”

Colar 20x4x1cm

Pétalas de dois cravos vermelhos, resina, latão e fio de algodão

MULHER HOMENAGEADA: Adelaide Cardoso e Lurdes Corgas (avós da artista)

STATEMENT: A maior herança que recebi das minhas avós foi a liberdade e sou muito grata pela sua luta, para que hoje tal como elas possa ser uma mulher livre. Por isso quis homenageá-las, representando-as através de dois cravos desfeitos colocando cada pétala pendurada individualmente num fio de algodão, fazendo assim que com o tempo as pétalas acabem por cair, tornando o colar cada vez mais reduzido, de forma a recordar-nos que a liberdade é um bem frágil e que não a devemos ter como adquirida, continuando sempre a lutar por ela.

12 Camillla Prey (IT)

“Sophie”

Instalação 150x104cm

Papel

MULHER HOMENAGEADA: Sophie Scholl

STATEMENT: A obra baseia-se na história da combatente da resistência Sophie Scholl. Juntamente com o seu irmão Hans Scholl e o seu amigo Alexander Schmorell, formaram o núcleo do grupo de resistência "Weiße Rose". As suas ações a favor da liberdade e da resistência contra o regime nazi consistiam em escrever textos de conteúdo anti-nazi e distribuí-los sob a forma de panfletos na Universidade Ludwig-Maximilians de Munique. Em 1943, os membros da "Rosa Branca" foram denunciados e presos. Sophie Scholl e o seu irmão Hans foram condenados à morte e decapitados por guilhotina no mesmo dia.  A instalação contém o símbolo de um panfleto e, ao mesmo tempo, a sentença de morte dos irmãos. A leveza dos panfletos que caem e, ao mesmo tempo, o peso destas ações estão no centro da obra de arte. Este facto é realçado pela possibilidade de experimentar a peça no pescoço.

13 Carla Castiajo (PT)

“Natureza Humana. A vida à volta de um centro”

Peça para o corpo 19x19x2cm

Cabelo/pelo, tecido, rede, couro, fio seda

MULHER HOMENAGEADA: Lourdes Castro

STATEMENT: Antes do 25 de Abril, muitas das atividades artísticas tinham de ser realizadas em segredo, na clandestinidade (na obscuridade, no silêncio, na sombra…). Lourdes Castro realizou uma pesquisa constante em torno da sombra. A sombra viria a tornar-se central em praticamente toda a sua produção, como é visível, por exemplo, no trabalho que realizou: “Sombras à volta de um centro". Além disso, é de destacar a relação da artista com a Natureza, com as plantas, com as flores, (a desabrochar e a murchar), com o que a rodeia – o doméstico, o privado, o íntimo, o comum, o mundano, os momentos da vida quotidiana... De facto, no trabalho de Lourdes Castro a vida e a obra confundem-se. Há uma relação entre a Arte e a Vida, entre a sua vida e o seu dia a dia, do acordar ao deitar, do semear ao colher. Gestos como pentear o cabelo, visíveis no filme de Catarina Mourão "Lourdes Castro - Pelas Sombras". E o cabelo está presente em muitos dos hábitos quotidianos, como lavá-lo, limpá-lo, penteá-lo, cortá-lo... Como uma força vital, toda a natureza humana é registada diariamente, repetidamente, e toda a experiência humana expressada pode ter significados políticos.

14 Carlos Silva (PT)

“Liberdade”

Colar 34x24x7cm

Cobre pintado

MULHER HOMENAGEADA: Celeste Caeiro

STATEMENT: De um encontro acidental entre Celeste Caeiro e um soldado surge o ícone visual desta revolução, no momento em que oferece um cravo vermelho que o soldado coloca no cano da sua arma. Logo muitos seguiram o seu exemplo. Na minha peça componho fragmentos de pétalas em torno de um aro contínuo, como homenagem a esta mulher que iniciou a união de tantos com um símbolo tão simples e feliz como um cravo vermelho.

15 Catarina Silva (PT)

“Aurora”

Peça de mão 52x52x1cm

Contas de vidro

MULHER HOMENAGEADA: Aurora Rodrigues

STATEMENT: Aurora Rodrigues foi militante do MRPP enquanto jovem estudante de Direito e foi presa política diversas vezes tendo sido submetida a um regime de tortura brutal como poucas mulheres o foram. Um exemplo de força e dedicação na luta pelos valores democráticos que regem hoje o país.

16 Claudia Schlabitz (PT/BR)

“Elis /. .-.. .. ... /“

Colar/adorno 280x6x1cm

Ouro 18K, Prata 925, missangas, fio de nylon

MULHER HOMENAGEADA: Elis Regina

STATEMENT: Sou natural da mesma cidade e cresci no mesmo bairro que Elis Regina viveu quando era criança. Ainda criança quando imaginava um cenário futuro, sentia-me capaz de alcançar o mundo pelo simples facto de me reconhecer no mesmo ponto de partida. Sentia a sua força e finitude, vivia os conflitos da adolescência e as suas canções eram os meus hinos de liberdade. Elis Regina, intérprete da canção que se tornaria Hino da Amnistia, representada na peça em código morse, referencia a censura nos tempos da ditadura. “Pimentinha”, como foi carinhosamente chamada, pelo seu espírito irreverente e língua afiada, entrou na casa dos brasileiros com sua “Esperança Equilibrista”, nos tempos em que o país chorava os seus filhos e filhas, perdidos, esquecidos e calados pelo regime militar. A sua voz era presença, alma e coração, estrela maior, brilho que permanece no coração de todos os que acreditam que o “show de todos os artistas, tem de continuar”.

17 Cristina R Nuño (ES/PT)

“Aroma de Abril”

Pregadeira 23x7x5cm

Prata 925, Bambu negro, plástico PET reciclado, essência de Cravo

MULHER HOMENAGEADA: Maria Antónia Palla

STATEMENT: Nos 50 anos da Revolução dos Cravos, quis homenagear a data fazendo brotar um Cravo de um fuzil, por sua vez flexível e resistente: um fuzil de bambu. O Cravo, inseparável da imagem de renovação e primavera, refere aos dias de hoje ao ser feito a partir de plástico reciclado e o aroma de Cravo acrescentado à peça reforça a presença da flor. A mensagem que espero conseguir transmitir é de que a luta continua e é imperativo realizá-la com flexibilidade e adaptação.

18 Diana Silva (PT)

”Coração de Catarina”

Colar 48×18x12cm

Madeira de Castanheiro, folha de ouro de 22k, cola de coelho, fio de seda, fio de ferro

MULHER HOMENAGEADA: Catarina Eufémia

STATEMENT: O coração de madeira de castanheiro achei-o na floresta, a sua proporção desmesurada, pode-se comparar ao coração de Catarina, pela sua grandeza de espírito para com as suas companheiras. O facto de o "cobrir de ouro" é mais um testemunho da grandeza do ato de Catarina em lutar pelos seus direitos e os direitos de todas as mulheres portuguesas, no trabalho, apesar de ainda hoje haver muitas injustiças e falta de direitos justos para com as mulheres em Portugal. Este coração representa o momento em que Catarina foi alvejada por uma bala. O coração tem o buraco que representa de uma maneira metafórica as balas que a mataram. O facto de haver gotas de sangue por todo o coração simboliza a dor de todas nós mulheres, de todas as injustiças que sofremos ainda hoje.

19 Dulce Ferraz (PT)

”Sem título”

Objeto 8x28.5x25cm

Plátano Platanus hispânica MILL, tília Tilia cordata MILL, latão, MDF e espelho

MULHER HOMENAGEADA: Maria Barroso

STATEMENT: Esta peça de homenagem a Maria Barroso surge integrada na série de trabalhos que tenho vindo a desenvolver com a criação de pequenas construções de espaços cénicos, numa escala intimista.

20 Elena Larrén García (ES)

“Habitando Identidades”

Formato variável. Peça têxtil: 26.5x36.5cm. Construção de colares e/ou pulseiras

Têxtil, prata, cianotipo e fotografia

MULHER HOMENAGEADA: Helena Almeida

STATEMENT: Esta obra reivindica e reelabora conceptualmente a obra da artista portuguesa Helena Almeida. A obra é concebida como uma peça versátil e efémera que transgride disciplinas, desde a joalharia e a fotografia até a costura e o bordado. Reflete sobre como e de onde foi construída a identidade feminina, além de incorporar as experiências da minha própria memória familiar, com o propósito de criar uma experiência estética, gestual e crítica. Aborda o conceito de transformar, sensibilizar, para construir uma sociedade mais igualitária. Um ato performático em jogo com o corpo para desarticular os papéis tradicionais e as etiquetas historicamente atribuídas às práticas de agulha como "secundárias" ou "não artísticas”. A confrontação entre o masculino e o feminino aparece frequentemente na obra de Helena Almeida. Esta oposição é simbolizada com o contraste entre os punhos de camisa de homem e várias imagens apropriadas da obra da artista. Além disso, a técnica fotográfica da cianotipia permite trabalhar, simbólica e literalmente, o desaparecimento da imagem. Já que os raios ultravioleta, lentamente, irão degradando a imagem, e se a peça estiver num lugar "visível" à luz de todos e todas, poderá gerar consciência social. Portanto, o desaparecimento da imagem constituir-se-à como uma materialização do tempo, um símbolo da transformação social, um avanço para um mundo em que a luta pela igualdade de género já não seja necessária, ficando apenas a marca do bordado como lembrete das histórias que uniram as mulheres.

21 Eugénia Quartin (PT)

“Quarenta Anos”

Conjunto de colar 20x20 cm, pregadeira 8x8cm, brincos 3x4cm

Prata, pérolas de água doce e algodão

MULHER HOMENAGEADA: Manuela Eanes

STATEMENT: Colares, brincos e alfinetes faziam sempre parte do dia a dia de Manuela Eanes, sendo o colar e os brincos de pérolas as jóias com que mais vezes se apresentava e que melhor recordo. Em homenagem ao importante trabalho social que Manuela Eanes desenvolveu, escolhi um colar articulado composto por 40 peças de prata que servem de suporte a 40 pérolas e que representam os 40 anos que o Instituto de Apoio à Criança, a sua obra mais importante, festejou recentemente.  Um par de brincos e um alfinete completam o conjunto das três peças que compunham a imagem com que quase sempre se apresentava e de que ela sempre cuidava pessoalmente.

22 Francesca Santa Subito (IT)

“Do nada”

Coroa 25x25x15cm

Óleo, frutas, bolotas, pedras, crina de cavalo, espinhos de ouriço, ninho de vespas, concha fossilizada

MULHER HOMENAGEADA: Mulheres da Resistência Italiana

STATEMENT: Propositadamente, escolhi dedicar a peça a todas as mulheres da Resistência Italiana, o nome não é importante aqui, nem a biografia específica de qualquer uma delas. Elas eram as nossas avós, as nossas tias, eram mães, irmãs, amigas, vizinhas umas das outras, algumas empunharam a arma, outras foram espiãs, algumas alimentaram, outras cuidaram, algumas morreram, algumas nem sabiam que eram da Resistência, algumas eram analfabetas e ainda assim agiram, não por causa de grandes ideais sobre os quais nunca foram ensinadas, mas pelo cuidado com a sua comunidade. A Resistência é todos esses pequenos atos de cuidado entrelaçados. Considero esta uma obra efémera. O objetivo é permitir que se dissolva após o fim da exposição, num local especial em Lisboa, para que retorne ao nada.

23 Inês Almeida (PT)

“resistência”

11 pendentes 2x2cm por pendente

Latão e fio de algodão

MULHER HOMENAGEADA: Mulheres operárias

STATEMENT: A resistência operária feminina despertou um  maior interesse em mim pelo anonimato, pelo sentido de união e entreajuda, pelo papel que desempenharam na luta pela igualdade e liberdade, por me levar a uma  parte do percurso de vida de alguns familiares. Uma dessas pessoas foi a minha avó materna, Arlinda (1928-2015). No início dos anos 50 trabalhou na "fábrica do alemão", perto do Barreiro, na escolha da rolha. Nessa altura o medo não a deixou resistir, lutar ou integrar partidos políticos. Um dos símbolos de entreajuda entre as operárias eram as chapas para controlar as presenças e atrasos. O sistema de controle de pontualidade nas fábricas era feito através de pequenas chapas de metal amarelo, sendo muitas vezes contornado com a solidariedade das operárias que retiravam a sua e a chapa da colega que estivesse atrasada. Era uma atitude arrojada pois as consequências podiam ser sérias. Depois do trabalho fabril, continuou sem ser uma uma mulher politizada, foi o seu sentido de justiça que, mais próximo de 1974, a moveu (junto com o meu avô) a  ajudar a esconder amigos e familiares fugidos à PIDE. Neste trabalho, em que faço uma  representação das chapas que faziam parte do dia a dia das operárias, a palavra "resistência" está escrita com a sua letra. Para mim, foi sempre uma resistente.

 "resistência" é para todas as mulheres operárias,  para as que resistiram activamente e para as quais o medo foi a sua forma de resistir e  sobreviver a tempos que não queremos que voltem nunca mais. 

24 Inês Nunes (PT)

“União”

Instalação - Peça democrática / Construção de um colar - de tipo e dimensões variáveis

50 protetores de microfones de espuma e ímanes

MULHER HOMENAGEADA: Maria de Lourdes Pintasilgo

STATEMENT: Uma reflexão de tudo o que foi dito - O silêncio dos sons manifestados pelas vozes firmes que procuram ser ouvidas. A finalidade é a interação dos visitantes com o objeto durante a exposição com vista a uma democratização da peça.

25 Iris Hummer (AT)

“Pérolas de Equilíbrio”

Corrente de otólitos 20×20×1cm

Otólito, ouro 585, rede de pesca

MULHER HOMENAGEADA: Maria Aranha

STATEMENT: Maria Aranha é uma mulher do quotidiano, uma pescadora de Cascais, que através do seu trabalho representa todas as mulheres que sempre estiveram e ainda estão em profissões dominadas por homens como algo natural. Elas representam a igualdade no microcosmo da sociedade. Elas mostram que, quando necessário, as mulheres podem muito bem encontrar o seu lugar em ocupações tradicionais como a pesca. O que não é evidente é a sua visibilidade e a valorização do seu trabalho. Estes são os temas da minha discussão e eu gostaria de honrar a liberdade dessas mulheres no sentido da democracia no meu trabalho artístico.

26 Iris Hummer (AT)

“Johanna Dohnal”

Anel de sinete para Johanna Dohnal constituído por um anel 3.5×3.5x4cm e um alfinete 4x4×1.4cm

Anel de bronze, lacre e alfinete de latão

MULHER HOMENAGEADA: Johanna Dohnal

STATEMENT: É importante honrar Johanna Dohnal com uma "joia da democracia" para lembrar uma política comprometida, forte e única e mostrar às jovens a sua auto-determinação. Ela era incómoda e persistente e, por isso, muitas vezes conseguia fazer valer as suas exigências com sucesso. O seu ideal de liberdade era muito forte. Ela repetidamente desmascarou estruturas de desigualdade e trabalhou contra elas. O que é particularmente impressionante é que ela não se deixava abalar por contratempos e rejeição. Mesmo em 2023, as suas exigências ainda são relevantes. É importante aumentar a consciência das mulheres e dar um exemplo de liberdade. Uma citação de Johanna Dohnal neste contexto foi: "A visão do feminismo não é um futuro feminino. É um futuro humano."

27 Isa Duarte Ribeiro (PT)

“Immolatio”

Objecto 14.5x14.5x14.5 cm

Cubo de acrílico, livros queimados e folha de ouro

MULHER HOMENAGEADA: Judith Teixeira (Lena de Valois)

STATEMENT: Por ter sido vítima da ditadura e pela  coragem de assumir a sua orientação sexual e, consequentemente ter tido a sua obra literária apreendida e queimada.

28 Isa Duarte Ribeiro (PT)

“mais outra. mais uma. outra. uma”

Fio colar, cerca de 7.3m de comprimento

Latão, prata e banho de ouro

MULHER HOMENAGEADA: Maria Manuel Viana

STATEMENT: Pela luta constante na defesa e denúncia das situações de mulheres e crianças vítimas de violência doméstica. Ela postava sempre uma frase nas redes sociais com ou sem imagens: “mais outra. mais uma. outra. uma. “ Em 2022, o seu último ano de vida, ela postou 28 vezes esta frase (24 mulheres e 4 crianças).

29 Joana Santos / Rossana Mendes Fonseca (PT)

“Cocoon”

Colar 50x10x3 cm

Resina, espelho/vidro, pvc

MULHER HOMENAGEADA: Helena Almeida

STATEMENT: Em Cocoon, o corpo, e mais especificamente o corpo feminino, é a matéria sensível de desdobramento plástico. Explora-se a cor, a geometria e a organicidade da matéria. A partir de um centro excêntrico que espelha e reflecte o meio envolvente e que concentra a cor, desenvolvem-se múltiplas ramificações formando a rede estrutural do casulo.

30 Joana Albuquerque (PT)

“Water carrying bags”

Objecto - 85x60x35cm(min.)/105cm(máx.)

Água, papel e cera

MULHER HOMENAGEADA: Maria Lamas

STATEMENT: Maria Lamas foi uma antifascista, feminista, lutadora pelos direitos humanos e cívicos durante o Estado Novo. Ela fotografou e escreveu sobre as mulheres do povo português, denunciando a imagem da mulher apenas como “dona de casa” promovida pelo regime fascista, dando visibilidade e atenção às mulheres trabalhadoras e ao seu quotidiano. “Sacos de Papel”, tem como referência fotografias do livro de Maria Lamas, “As Mulheres do meu País”, que retratam mulheres carregando na cabeça, assentes numa rodilha, cestas, trouxas ou sacos, para carregar o farnel, carvão, peixe ou hortaliças. O ato de carregar é intrínseco ao ser humano. É interessante observar como o que se carrega e o modo como se carrega reflete os tempos em que se vive. Hoje também movemo-nos na cidade carregando coisas em mochilas, malas e sacos de papel. Segundo a antropóloga Elizabeth Fischer, em “The Carrier Bag Theory”, em vez dos objetos cortantes de pedra lascada, ao contrário do que geralmente é divulgado, o primeiro dispositivo cultural dos humanos foi provavelmente um recipiente, como uma bolsa, rede ou saco de transporte, que permitia transportar os vegetais que colhiam. As primeiras ferramentas humanas seriam assim, provavelmente, mais associadas a atos de colher, carregar, cuidar e preservar, do que à violência.

31 Kaia Ansip (EST/PT)

”Asas para voar”

Duas Pregadeiras 10x5cm

Prata, aço inoxidável

MULHER HOMENAGEADA: Snu Abecassis

STATEMENT: As asas para voar aparecem sob a forma de livros e de asas. Snu Abecassis, como editora, deu às ideias asas para voar, porque os livros não são portadores de novos pensamentos. Ela estava no céu quando morreu. Esta ideia parece-me ao mesmo tempo assustadora e bela. Com este trabalho, gostaria de voltar atrás no tempo e fazer com que esse avião voasse e aterrasse no seu destino, no Porto. Snu era ainda tão jovem. O que é que ela poderia ter feito na jovem democracia de Portugal?

32 Kika Rufino (BR)

“Tomado de assalto”

11x6x7cm

Quartzos nativo do Brasil

MULHER HOMENAGEADA: Anna Bella Geiger

STATEMENT: “lá não se aprende a pedra: lá a pedra, uma pedra de nascença, entranha a alma”

João Cabral de Melo Neto

Durante esta criação, fui tomada de assalto pela coleção de "Ouro e pedras do Brasil" presente no Museu que recebe esta mostra bem como pelo que está oculto no texto que a apresenta. Tomado de assalto, em português, significa “ser surpreendido”. Sentido que podemos experienciar diante da obra. Nela um anel aparece contido em quartzos nativos e brutos do Brasil. Ele, no entanto, é constituído pelo seu vazio. Uma chegada de percepção repentina em nossa retina que imediatamente se contradiz. Convidando-nos a mudar de posição. Seria ele real? O anel, me dizem, maravilha e desconcerta. Ele convoca a ver com o corpo todo e verificar de outras perspectivas. Afinal, certamente não poderíamos tomá-lo nem vestir em nossas mãos. A experiência nos dá insumos para examinar de novo o entorno que julgávamos ser já conhecido. Convidando-nos a pensar no que foi criado, encontrado, removido, deslocado, reposicionado e em como tal conjunto nos é (re)velado. Assim, homenageio Geiger que, em meio à ditadura, nos ensinou uma arte que provoca erosão de certezas, realizando trabalhos que apostam no que resulta de encontros improváveis entre coisas e corpos. Pois também desconfio que sem esta perspectiva crítica, nossas democracias permanecerão alicerçadas em preconceitos alienantes.

33 Lázaro Bonixe (PT)

“O compromisso”

Pregadeira 20x20cm

Latão, cobre, pérolas

MULHER HOMENAGEADA: Manuela Eanes

STATEMENT: A pregadeira “O compromisso” é uma ode à coragem e dedicação de Maria Manuela Eanes na luta pela democracia em Portugal. Esta peça simboliza a resistência, pureza e brilho do movimento democrático, honrando o legado inspirador de Eanes como uma líder visionária.

34 Leticia Costa (BR)

“MEMÓRIAS”

Objecto/Colar 50x30cm

Papel craft impresso com imagens de jornais (1964-1985), resina, fio vermelho, latão com patina

MULHER HOMENAGEADA: Lucia Murat de Vasconcelos

STATEMENT: “MEMÓRIAS” -  Uma peça que criei, inspirada num momento triste da nossa história: a ditadura militar; memórias fotográfica da violência e desrespeito. Faço homenagem nesta peça à Lucia Murat, uma jovem que na época lutou contra essa opressão, foi presa e torturada, e tornou-se uma cineasta premiada. Utilizei neste trabalho como referências fotografias que remetem a essa memória, fios vermelhos à violência, e as flores azuis, que simbolizam os olhos e a esperança de Lucia Murat.

35 Lia Morais (PT)

“Mulheres a salto”

Objecto para ser usado por duas pessoas 100x50 cm

Prata oxidada; fio de linho ensebado; pão; pano de linho; recipientes de vidro.

Registo narrativo | 2’07’’, Ficheiro Digital MP4

MULHER HOMENAGEADA: Mulheres a Salto

STATEMENT: … quando estávamos quase a chegar à fronteira a minha Mãe escondeu-me debaixo do banco da camioneta e disse-me:

- Fica aqui quietinha e caladinha  que quando chegarmos a França eu dou-te uma bicicleta.

Este acontecimento, contado na primeira pessoa pela Carmo, ficou registado na minha memória… Comoveram-me a entrega da filha e a coragem da mãe. Um testemunho de amor incondicional. Amor que ultrapassou fronteiras cerradas, desbravou caminhos incertos, percorreu terrenos acidentados, superou preconceitos, ultrapassando as mentalidades toldadas daquele tempo. Amor que durante dois anos, desafiado pela incerteza e angústia, lutou contra o esquecimento. Maria de Fátima, impossibilitada de estar com a sua filha, decide sozinha e clandestinamente voltar a Portugal para levar a pequena Maria do Carmo consigo para Casa. Mulher valente! Mulheres valentes! Nesta história secreta, tantas vezes repetida, duas mulheres - duas gerações - deram o salto em busca de uma vida melhor. O trabalho apresentado é composto por uma joia - objeto para dois corpos - e por um registo narrativo digital - meio para um reencontro/revisitação do passado. A joia-objeto interliga e envolve dois corpos femininos (Carmo e a sua Mãe). É constituída por um fio rematado, nas suas duas extremidades, por dois aros que se ajustam respetivamente a cada um dos dedos das mãos dos dois corpos. A meio do fio e por ele trespassado há um pão acarinhado pelas duas mãos que assim se unem. Sobre a toalha de linho: uma linha une dois anéis, dois corpos, duas partidas, dois destinos. No centro, consagra-se o Pão que alimenta a Casa, a sede que mantém a ligação e protege o amor entre mães e filhos.

36 Lúcia Abdenur (BR)

“Olhar Angelical - talismã” e “Véu - Ato Simbólico”

Pendente 10x11cm, fio de algodão de tamanho variado, 45x40cm, “Olhar Angelical - talismã”

Latão, folha de ouro, prata, tubo de acrílico, fotografia, fio de algodão, PVOH (filme de álcool polivinílico).  

“Véu - Ato simbólico” - PVOH (filme de álcool polivinílico), tinta esferográfica, fio de algodão

MULHER HOMENAGEADA: Zuzu Angel

STATEMENT: O meu trabalho consta de dois momentos: o talismã - Olhar Angélico e o ato simbólico - Véu. Com o “Olhar Angélico” presto a minha homenagem a Zuzu Angel e a todas as mulheres que lutam pelos seus sonhos e ideais. Para lembrar sempre da força interior que cada um de nós carrega e da importância de lutar por aquilo em que acreditamos. O talismã inspirado no Anjo, logomarca do ateliê de Zuzu, tem no centro um tubo de acrílico com uma foto, subtil, do olhar de Zuzu em busca, incansável, pelo filho.

No ato simbólico - Véu, em PVOH (filme de álcool polivinílico) escrevi “Ditadura nunca +” e bordei caminhos aleatórios com fio vermelho. Após bordar esses caminhos, a peça foi mergulhada em água, como se estivesse sido lavada, restando somente o fio vermelho.  Este ato simbólico representa uma tentativa de purificar as lembranças e cicatrizes deixadas pela ditadura, uma forma de se livrar das “coisas tristes” que marcaram este período sombrio da nossa história. Mas lavar as memórias da ditadura não significa apagar o passado, muito pelo contrário. É preciso manter a memória dos que sofreram e lutaram contra o regime autoritário, para que as novas gerações possam aprender com os erros do passado e fortalecer os valores democráticos.

37 Luís Torres (PT)

“Medalha”

Colar 14.5x59x2.8cm

Cabelo sintético, alumínio, prata e poliéster 

MULHER HOMENAGEADA: Cesina Bermudes

STATEMENT: A Cesina era uma mulher enorme mas extremamente despretensiosa que ajudou imensas mulheres durante a ditadura, ao longo da sua prática como obstetra, na maior parte das vezes em regime de pro bono; daí ter optado por não utilizar materiais nobres exceto no gancho da trança e escolhido a fita branca, alusiva à medicina. A trança, que é o ponto focal da peça, pois ela era conhecida pela sua “famosa trança” (artificial), é a grande homenagem - mas o cabelo em termos históricos tem um peso e uma carga muito maior e em especial o cabelo feminino. Sendo ela uma feminista, essa trança faz a afirmação da emancipação feminina, emancipação para que ela contribuiu e muito ao querer ir estudar para Paris e introduzir em Portugal a técnica do parto sem dor. O colar, estrategicamente, fica com o pendente na zona da barriga, para simbolizar todos os seres humanos que ela fez nascer. Mas o pendente deste colar, é sobretudo uma medalha, que para além de mostrar e “premiar” todo o trabalho por ela realizado, é também para dar a conhecer o seu lado mais pessoal – pois Cesina era fervorosa competidora de natação e de corridas de bicicleta e automóvel numa altura em que as mulheres não praticavam esse tipo de atividades. Cesina foi uma mulher com “M” grande, uma mulher literalmente com o poder nas suas mãos e que mudou a maneira como as mulheres vivem um dos momentos mais belos das suas vidas – desmitificando a ideologia que era o parto antes desta técnica ser usada!

38 Luísa Quartin (PT)

“Aura”

Colar/ Coroa 35cmx28cm

Latão e cristais de vidro

MULHER HOMENAGEADA: Sophia de Mello Breyner Andresen

STATEMENT: As histórias fazem-nos sonhar e para sonhar a idade não tem importância. Uma escolha baseada na minha infância, influenciada pelas histórias de Sophia de Mello Breyner Andresen. Embora seja uma escolha individual, as histórias, poemas e contos de Sophia de Mello Breyner fazem parte de uma memória coletiva. Levámos com um mar de lições e muitas gotas de imaginação. Gotas que até hoje continuam a regar a raiz artística de cada um de nós. As obras de Sophia são muito influenciadas pelo local onde cresceu e pela sua infância. Com uma alma quente e dourada, foi capaz de iluminar a realidade e de expressar a sua ânsia de liberdade. Foi uma pessoa com uma grande imaginação e as histórias que inventava eram a sua grande companhia. Hoje, são a nossa.

39 Manuela Sousa (PT)

“Red”

Pendente 12x8 cm (em caixa de 29,5x18,5,3 cm)

Ardósia e latão lacado

MULHER HOMENAGEADA: Todas as mulheres

STATEMENT: A conquista e o exercício da democracia só se tornou possível com participação de todas as mulheres, não só as que pela sua condição social e cultural se tornaram figuras de referência no processo democrático, como também todas as que anonimamente na família, nos locais de trabalhos e na comunidade participam ativamente na manutenção e na defesa permanente dos seus direitos.

40 Maria Benedita (PT)

“Snu”

Colar 18cmx30cm

Prata branqueada, pérolas e um livro

MULHER HOMENAGEADA: Snu Abecassis

STATEMENT: Escolhi a Snu, porque dentro do leque de mulheres admiráveis que contribuíram para a liberdade do nosso país, a Snu tocava em vários pontos importantes. Fundou as publicações Dom Quixote (mostrando o papel da mulher como empresária) e, além de nos trazer cultura através dos livros, publicou obras com ideias contrárias à ditadura do Estado Novo. Divorciou-se, o que não era comum na época. E teve um romance. Em homenagem a Snu Abecassis, esta peça é composta por uma gargantilha escondida dentro de um livro da coleção “cadernos” da Editora D. Quixote. “Guerra ou paz?*” foi o livro escolhido por ser, infelizmente, bastante atual, e carregado de simbolismo. Quanto à gargantilha, as palavras democracia, cultura e liberdade nas três medalhas centrais simbolizam algumas das portas que Snu ajudou a abrir, num pais que vivia em ditadura e fechado para o mundo. Algumas letras apresentam-se em espelho para representar algo que temos em comum: a dislexia. O urso simboliza o objeto pessoal infantil “Teddy”, oferecido pelos pais de Snu e que  foi conservado por Snu desde a infância como símbolo de uma crença que tinha crescido com ela, a de que poderia melhorar o mundo. O ramo de flores representa as flores que Snu levava todos os dias para a editora. As pérolas e o branqueado remetem para a neve e simbolizam a sua origem nórdica.

41 Maria José Oliveira (PT)

“Cérebro”

Objecto, 55x78x5,5 cm

Tela crua de algodão, cal, areai de sílica, óxido, grafite, café, papel de seda

MULHER HOMENAGEADA: mãe

STATEMENT: Desenho para estudo das formas antes da formação dos saberes segundo Jung

42 Marília Maria Mira (PT)

“Matraca”

Colar - 22x63x1.5cm

Aço, prata, esponja e pele

MULHER HOMENAGEADA: Maria Lamas

STATEMENT: “Matraca” - Ceifar, Ceifa (verbo, instrumento de agricultura) Cortar rente. Dar amanho à terra. Cultivar, tratar. Pôr em ordem.  Preparar para determinado fim. Arrumar, arranjar, limpar.  Melhorar a aparência. Ajeitar, compor. Obter algo. Conseguir, ganhar. Adaptar-se. Ajeitar-se, desenrascar-se.

“Para cada história sobre quanto uma mulher trabalha, está uma história sobre quanto não faz; para cada história de tudo o que viveu, tudo aquilo que não viveu.      …

Dizer mulher antes de qualquer outro qualificativo é continuar a dizer-como outrora- que o corpo se sobrepõe a tudo o resto.” (in Lenços pretos, chapéus de palha e brincos de ouro, pág. 48, 49, SUSANA MOREIRA MARQUES, 2023, Penguim Random House Group)

Dedicado às pessoas, às mulheres de ontem, de hoje, de amanhã e à Revolução sempre.

43 Miriam Mirna Korolkovas (BR)

“Árvores, Nosso Ar”

Dois colares 18x23cm e 12x22cm

Acrílico, madeira, plástico e prata

MULHER HOMENAGEADA: Marina Silva

STATEMENT: Os galhos de madeira foram recolhidos de árvores mortas e o plástico presente de cor vermelha e preta indica o sofrimento das mesmas a sangrar, queimadas pelo fogo devastador.  O tema das obras versa sobre como o ser humano lida entre o seu próximo e com o ambiente no qual depende para sua sobrevivência. Toda criação está conectada para o bem de tudo e todos que compõem o planeta Terra. Neste caso, selecionei a vegetação, as árvores. Vivemos num período de constante exploração das florestas e das suas consequências. Dependemos do verde! Dependemos de amor entre nós e o ambiente para sobrevivermos em paz numa democracia ampliada.

44 Miriam Andraus Pappalardo (BR)

“LINA”

Colar 27x72x13cm

Água-marinha, ferro, alumínio, prata, tecido e linha de costura

MULHER HOMENAGEADA: Lina Bo Bardi

STATEMENT: Embora Lina Bo Bardi tenha nascido na Itália, escolheu o Brasil como a sua terra. Entre tantas qualidades, como mulher arquiteta, o seu trabalho destaca-se como um dos principais expoentes da arquitetura brasileira. Lina foi revolucionária tanto com os seus pensamentos como com as suas ações. Tão brutalista como delicada, propõe uma abordagem libertária e humanista sobre o uso do espaço e questões do design, sempre pesquisando, valorizando e criando vínculos com as culturas populares, as suas tradições e sabedoria.
Pensei numa peça que pudesse ser uma oferenda para Lina, que falasse da verdade dos materiais, das diversidades de técnicas e fazeres tradicionais com os quais Lina tanto aprendeu como enalteceu, do seu interesse por um Brasil múltiplo e profundo, da flor do mandacaru, do seu gráfico colar de águas marinhas. O “não acabado” como o limite do que é necessário, e como isso pode ter o seu próprio sentido estético, assumindo imperfeições como uma graça do acontecimento. Uma cartucheira lamparina, montagens de memórias sobre Lina em mim.

45 Nicole Uurbanus (NL/BR)

“Pearl Necklace – Elza Soares”

Colar 55x20x1.5 cm

Cobre, silicone, linha

MULHER HOMENAGEADA: Elza Soares

STATEMENT: Uma mulher, Uma cantora, Uma mãe, Uma guerreira, Uma dama, Uma voz.   Elza Soares, com dificuldades, poderosa, admirada ("Eu não vou sucumbir"). Com sua voz única, soube mostrar o Brasil exatamente como o viveu e como ele é ("Uso minha voz para dizer o que está calado") - um país ao mesmo tempo encantador e cruel, belo e desigual, o passado eternamente presente ("A carne negra é a mais barata"). Nas escolhas que fez, Elza nos presenteou com pérolas ("Deixo minha dor numa chuva de confetes"), nas linhas que encontrou para se expressar ("Imagine as marcas internas") e no lugar que precisava preencher ("Boca uma arma letal") neste Brasil que tanto precisa de gente como ela ("Nasceu com cara de fome").  Pérolas: eterna reprodução e repetição, retiradas da arma. Arma: resistência. Fio: trajetória.

46 Paula Castro (PT)

“O indizível”

Alfinete 14x 5.9x2.5cm

Prata, casca de eucalipto

MULHER HOMENAGEADA: Lourdes Castro

STATEMENT: A delicadeza das frágeis plantas e as suas sombras, como a respiração de liberdade de expressão.  Transformar o peso da vida, em algo belo e leve e, com quase nada. Apenas, a vontade (ou a necessidade) de criar o dizível e o indizível em traços indeléveis. O símbolo, a força, a fluidez, a liberdade.

47 Pilar Andaluz (PT)

“O caminho”

Colar 15x5cm, Pregadeira 13x5cm, Suporte 39x14cm

Cobre pintado, prata, esmalte, cordão sintético (colar) ; cobre pintado, prata e esmalte (pregadeira) ; cobre pintado e ferro (suporte)

MULHER HOMENAGEADA: Maria Helena Vieira da Silva

STATEMENT: Homenagem a Maria Helena Vieira da Silva. Celebramos o feminino neste trabalho comemorativo do meio século da revolução portuguesa. O nosso pensamento segue a vida de tantas mulheres, anónimas, sem rosto, que, embora invisíveis, têm acesso ao plano do sonho improvável, paralelo, e cuja vivência alimenta e inspira, assim nascem as revoluções, a maior obra, a grande mudança. Trabalhámos a partir da pintura “autorretrato”, 1932. É o princípio, a grande escolha, o caminho que desenhará a sua vida. Como se neste quadro estivesse contido o seu percurso. A menina com o vestido vermelho é a metáfora da vida, numa escada de corda ondulante, rodeada de abismos, e avança determinada pela máquina do tempo.

48 Renata Meirelles (BR)

“Memória Verdade Justiça – Uma homenagem a Clarice Herzog”

Colar 64x40cm

Fio de algodão, fio de palha de arroz, poliamida e cobre

MULHER HOMENAGEADA: Clarice Herzog

STATEMENT: Quem não viveu os anos de chumbo não pode imaginar o que de facto aconteceu. Preservar a memória do que se passou no Brasil entre 1964 e 1985 é um instrumento para superarmos o que herdámos da ditadura. Clarice foi vítima desta violência da ditadura e travou uma luta dentro e fora do Brasil em nome da Justiça, da Verdade e da Memória, formando os três pilares do Instituto Herzog, criado por ela como homenagem ao seu marido Vladimir como um acto de amor e resistência. Precisamos de continuar a contar a futuras gerações o que aconteceu. Como uma forma de preservar esta memória, faço a minha homenagem a Clarice Herzog. Precisamos de muitas Clarices neste mundo. Pessoas que não desistem de lutar pela justiça, que trabalham pela liberdade de expressão e pelo direito à informação. Uma homenagem que quero estender às pessoas que foram atingidas pela repressão, e que mesmo sendo difícil reviver momentos de dor, optaram por não se calar. Os elos que compõem a peça representam todas as pessoas que sofrem ou sofreram com a violência e injustiça, transformando-se em símbolos de resistência e união. O elo da democracia entre todos os que lutam pela liberdade, impedindo que a impunidade, as violações de direitos humanos, e as práticas violentas e repressivas persistam no presente. Ditadura nunca mais. Não podemos deixar a memória se apagar. “Quando perdemos a capacidade de nos indignar com as atrocidades praticadas contra os outros, também perdemos o direito de nos considerar seres humanos civilizados” - Vladimir Herzog

49 Renata Porto (BR)

“Silêncio”

Peça de mão, 23x10x4cm

Madeira, tecido, cobre, prata e ouro

MULHER HOMENAGEADA: Maria da Conceição Coelho da Paz

STATEMENT: Por ela ser quem foi e por dar voz a tantas outras mulheres e mães que estavam a lutar contra a ditadura instaurada no país. Maria esteve sempre junto do seu filho, um dos homens mais procurados pelo exército durante a ditadura brasileira e pouco se sabe dela. Silêncio, como um túmulo, segredos e dores que são levados consigo em seu leito de morte. Ao retirar a pesada tampa é revelado em um livro-manto alguns depoimentos sobre o que aconteceu, sobre essa mulher que nunca teve o reconhecimento de sua força e luta. Após se deparar com as fortes revelações, encontra-se finalmente a sua voz, que pode ser escutada até por aquele que não quer ouvir. Uma peça de mão, um dedo marcado, torturado e digno, um aro de ouro que amarra e encaixa fazendo o gesto que quem grita em Silêncio.

50 Sandra Manin Frias (BR)

“Amazônia”

Pendentes 5x8x0.5cm

Prata remete a ganância universal, Madeira pau brasil reutilizada - remete a ganância regional no Brasil

MULHER HOMENAGEADA: Bertha Luz

STATEMENT: A questão ambiental tem relação simbiótica com a social. A Amazônia, a destruição do meio-ambiente, vigente há anos, atua como uma ferramenta de perpetuação de desigualdades. Portanto, acreditamos que a preservação da Amazônia carrega consigo um valor mais complexo do que o ato de conservar, por si só. O desafio atual consiste em promover a preservação para além do escopo ambiental, pensando na conservação como um instrumento de desenvolvimento económico e social.

51 Sónia Brum (PT)

“Sem Título”

3 Pendentes 13x15x0.10cm / 9x10x0.10cm / 12x10x0.10cm

Missangas de vidro e fio de algodão

MULHER HOMENAGEADA: 3 Marias – Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa

STATEMENT: Três pendentes que, a partir do desenho, referem a condição das mulheres. Aquilo que é consentido ou negado. A violência. A injustiça e as várias desigualdades, em imagens difíceis de reconhecer, escondidas na deformação do material.

52 Sunhi Jaeger (DE)

“A poesia está na rua”

Colar 70cm com pendente - 12x12x0.4cm

Pétalas de cravo, papel feito à mão, algodão

MULHER HOMENAGEADA: Margarida Gil

STATEMENT: Em entrevista à rádio TSF, a 23 de março de 2022, Margarida Gil fala sobre as conquistas do movimento democrático. O movimento tem registado desenvolvimentos positivos, nomeadamente no que diz respeito à igualdade de oportunidades entre mulheres e homens. “Já não somos a única mulher, somos cada vez menos a única mulher” , diz Margarida Gil, olhando para o tempo em que era uma raridade como cineasta.  A liberdade de ser livre, nas palavras da filósofa Hannah Arendt, é um bem frágil que se pode perder sem um empenho e uma atenção constantes. O processo é suportado por todos aqueles que dão voz à vontade de ser livre. O meu trabalho é dedicado a Margarida Gil, que é pioneira neste processo e dá voz à liberdade.

53 Susana Gorjão (PT)

“Porta para a liberdade”

Pendente 5x9cm

Prata e latão

MULHER HOMENAGEADA: Odete Santos

STATEMENT: “As saudades do futuro nascem da necessidade de transformar o mundo e, na antevisão desse mundo futuro a partir das realidades que conhecemos, das utopias que serão as realidades do amanhã”. Esta obra representa o reconhecimento constitucional da existência das mulheres na sociedade com iguais direitos aos dos homens.  O que constituiu um importantíssimo contributo para a alteração da condição feminina em Portugal.  Uma porta para a Liberdade.

54 Telma Aguiar (BR)

“Liberdade e Paz”

Colar 22.5x19.5 cm

Madeira, selo FSC de produtos florestais, barbante vermelho de algodão sustentável e tingido com pigmento da árvore de pau Brasil, sementes de jarina

MULHER HOMENAGEADA: Ministra Marina Silva

STATEMENT: Por ter se destacado na política, mesmo sendo analfabeta até aos 16 anos, tendo contraído várias doenças graves  e conseguido superar tudo isso, e por trabalhar incansavelmente na defesa da Amazónia, ganhando vários prémios.

55 Teresa Dantas (PT)

“Latíbulo do Viril”

Escultura/guarda segredos 29x18.5x20cm

Resina, bronze fundido, cobre, madeira, pigmentos, fio de couro, ferro

MULHER HOMENAGEADA: Paula Rego

STATEMENT: Paula Rego, nascida em Portugal em 1935, foi uma pintora portuguesa contemporânea cujo trabalho se distingue pela sua poderosa abordagem na representação de intrincadas narrativas femininas. Na pintura intitulada “Saia daqui você e sua sujeira”, a força do grito da mulher deixa uma impressão profunda. Teresa Dantas, nascida em Moçambique em 1965, interpreta esta obra através de uma escultura metálica trabalhada em bronze, cobre e resina. Na sua interpretação, o grito, o segredo e a harmonização dos elementos femininos e masculinos ocupam o centro das atenções. A força e a intensidade retratadas na pintura são eloquentemente traduzidas numa peça de escultura contemporânea.

56 Teresa Milheiro (PT)

“Instrumento de caça”

Zarabatana 40x5cm. Peça total - zarabatana, colar suporte para olhos e tripé 88x64x44cm

Ébano, bambu, vidro, latão pintado, latão lacado, tinta acrílica

MULHER HOMENAGEADA: Natália Correia

STATEMENT: Quando penso na Natália Correia, é inevitável  associa-la à sua boquilha. Esse objeto, tornou-se a sua imagem de marca, que lhe imprimia um caráter de segurança, de independência, de atitude, de firmeza, de coragem,  de liberdade, de erotismo, de controvérsia, de desafio, de polémica , poético,  romântico e de “bon vivant”. Dei por mim a pensar, na transmutação deste objeto numa zarabatana. Como se Natália, fosse uma Amazona, imponente, com o seu instrumento de caça, a sua inteligência aguçada, com respostas acutilantes sempre na ponta da língua, soprando dardos, olhos à vigilância e controlo exercido pela PIDE , que vasculhava a sua vida, sem que a conseguissem prender, bem como, em relação à sociedade, costumes e preconceitos da época.

57 Tereza Seabra (PT)

“Chamava-se Catarina”

Colar 17x1cm

Pérolas de farinha de trigo, prata, ouro, marcassites e zircão

MULHER HOMENAGEADA: Catarina Eufémia

STATEMENT: O clássico colar de pérolas foi nas décadas de ( 40/50 ) a joia icónica da elite burguesa. A combinação insólita entre os 2 materiais: - pérolas de farinha de trigo moldadas manualmente simbolizam o trabalho e o pão.  O fecho trabalhado ao clássico gosto burguês em materiais nobres - prata, ouro, marcassites e zircão anos ( 40/50 ) simboliza a classe latifundiária dominante do Alentejo. O contraste evoca de forma irónica as diferenças socio-económicas no Alentejo à época da morte de Catarina. O resultado deste trabalho é um colar pastiche harmonioso, metáfora do que Catarina ambicionava para o seu Alentejo - o equilíbrio entre patrões e trabalhadores.

58 Typhaine Le Monnier (FR/PT)

“Sinais de Graça”

9 pendentes 5x3x2cm

Mármore, aço dourado, fio de nylon

MULHER HOMENAGEADA: Graça Costa Cabral

STATEMENT: Estudos sobre monólitos de mármore, novos “retratos” olhando para cima. Inspirado da obras escultórica da Graça Costa Cabral, Intitulada “Sinais e Semelhança”.

59 Valentim Quaresma (PT)

“Sem título”

Pregadeira 15x15 cm

Materiais diversos

MULHER HOMENAGEADA: MDM-Movimento Democrático das Mulheres

STATEMENT: Resolvi homenagear o MDM pelas inúmeras lembranças que tenho de ir às reuniões com a minha mãe quando era miúdo, logo após o 25 de Abril. Era inspirador ver como a minha mãe, e tantas outras mulheres, se motivavam ativamente na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

60 Viktoria Austmeyer (DE)

“Para Maria”

Pregadeira 13.5x11.5x4.5cm

Cera, 935 prata e aço

MULHER HOMENAGEADA: Maria Teresa Horta

STATEMENT:

“VEREINT“

dein körper

an mein

wir zwei

und das dazwischen

zusammen vereint

das, was ich

verspür

ist so viel mehr

als wir uns

berührn

Tradução Portuguesa:

“JUNTOS”

o teu corpo

no meu

nós dois

e o que está no meio

juntos combinados

o que

eu apercebo-me

é muito mais

do que apenas

o toque

Este toque, símbolo de irmandade, reflete-se no meu trabalho. O toque terno de duas mulheres num abraço, representado pelo espaço entre elas. Este espaço entre elas como símbolo de apoio, coesão, força, superação de fronteiras e celebração da feminilidade - um espaço cheio de infinitas possibilidades.

Maria Teresa Horta, escritora, poeta, jornalista e ativista feminista. Publicou, em 1972, juntamente com Maria Velho de Costa e Maria Isabel Barreno, a obra "Novas Cartas Portuguesas", com a qual deram um sinal claro contra a opressão patriarcal, a violência social, a injustiça e a discriminação, bem como contra o regime fascista do Estado Novo. Pouco tempo depois, esta obra literária foi proibida pela censura por ser considerada "pornográfica e contrária à moral pública". As três autoras foram detidas e presas, o que provocou uma onda de indignação a nível mundial e um inesperado apoio internacional.

61 Vivianne Kiritani (BR)

“por Graça”

Colar de cera 29.7x42cm. Colar de argila 25x25cm. Bracelete de porcelana 15x15cm

Colar de cera, colar de argila, bracelete de porcelana

MULHER HOMENAGEADA: Graça Costa Cabral

STATEMENT: Coloco suavemente as minhas mãos na pequena peça de porcelana para escutar a alma daquela que a esculpiu. Uma tentativa de apanhar a essência da sua existência e entender como seria estar naquela pele. De uma natureza vulcânica como a do seu lugar de origem, São Miguel, na imensidão azul e de força exuberante, acreditava na liberdade das experimentações ao ponto de fundar uma escola livre de artes. Encontro-me com a Graça Costa Cabral na liberdade de criação, a joalharia e a escultura num campo aberto, sem pertencer a nenhum destes territórios, e a partir deste princípio o objeto fala sobre o corpo. Incorporo as suas formas e entrego-me, imprimo as brutas camadas de tempo do mundo com as dobras do meu ser, desta mesma substância de que somos feitos, dou a minha pele à Graça.

62 Zélia Nobre Carré (PT)

“Sem título”

Colar 35x22x1.5 cm

Prata 925, coral, esmalte fotográfico

MULHER HOMENAGEADA: Maria de Lourdes Pintasilgo

STATEMENT: Inteligente, brilhante, sensível, Maria de Lourdes Pintasilgo foi sem dúvida uma das personalidades mais marcantes da nossa vida social, política e cultural da segunda metade do século XX.